quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

BANDAS

Polícia do Rio: compor com a banda podre seria o erro fatal da nova chefe

Marta Mesquita da Rocha assume a chefia da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Vai dar certo? Depende! Que política de segurança será adotada para que as questões de polícia continuem a ser de polícia e não de… política?
Em inglês, a distinção ficaria mais engraçadinha: a “policy” da “police” não é “politcs”. O primeiro e fatal erro que Marta pode cometer é tentar uma conciliação com a banda podre da Polícia, que, como se vê, não é pequena e chegou ao topo da hierarquia. Ela mesma conhece isso de perto. Já digo por quê. Eu me arriscaria a dizer que a corrupção do sistema, no Brasil inteiro, é o mais grave problema de segurança pública do país. Se aqueles encarregados de manter e a lei e a ordem estão contaminados pelo crime, então é o pior dos mundos. E o Rio experimentou o pior dos mundos — ainda não saiu dele, é bom que se diga.
Até havia um mês, Allan Turnowski integrava o que era vendido por certa imprensa como o grupo de Eliot Ness. Perdeu o cargo depois que a Operação Guilhotina, da PF, cortou a cabeça de pessoas do seu grupo e que ele próprio, numa ação destrambelhada, resolveu lacrar o departamento de um desafeto seu, o delegado Cláudio Ferraz — tido por muita gente respeitável como um policial decente —, que havia colaborado com a Polícia Federal. Não! Polícia não se resolve como se fosse política. Nesse caso, fazem-se composições, alianças, cada lado abre mão de alguma coisa, busca-se o equilíbrio dos ganhos e perdas, de modo que, tanto quanto possível, ninguém esmague ninguém. É da natureza do jogo e do processo. Na política, as coisas dão errado quando um dos lados é exterminado. Isso é mau sinal; quando acontece, o sistema está correndo risco.
Polícia não é política. Seu “outro lado” não é um adversário cujas razões devam ser consideradas. Não há o que aquiescer. Em matéria de polícia, é preciso, sim, exterminar o inimigo — o crime —, respeitando-se os direitos que os criminosos têm, sempre lembrando que direitos de criminosos são restritos, próprios a essa condição. É um truísmo e uma obviedade, mas é preciso que se diga: NINGUÉM TEM DIREITO DE SER BANDIDO, SEJA RICO, SEJA POBRE. A tendência dos chefes de Polícia no Brasil inteiro é condescender com a banda pobre da instituição em nome da “pacificação”. Costuma-se dizer por aí: “Se formos levar tudo a ferro e fogo, a polícia acaba!” Uma ova! Eis uma política (policy) errada porque, então, se trata a polícia como se fosse política (politcs).
O Rio só chegou à beira da anomia na área de segurança porque essa tem sido a escolha. Não há como a legalidade ganhar essa parada. O crime é mais rápido e dispõe de uma vantagem comparativa: não tem regras; não precisa seguir leis; não está submetido a nenhum dos necessários controles democráticos a que a polícia se submete. O secretário de segurança e o chefe de polícia, por mais honestos que sejam, que aquiesçam com uma pequena sem-vergonhice aqui, outra ali, para “manter a paz” estão apenas cavando o buraco do próprio insucesso, no qual serão enterrados.
Marta vem lá de trás, do brizolismo ainda. Era pessoa de confiança de Nilo Batista, vice de Leonel Brizola, que governou o estado entre abril de 1994 e janeiro de 1995. Em maio de 1993, ela assumiu o então chamado Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), substituindo o delegado Edson Campello, que havia sido acusado de enriquecimento ilícito. Seis meses depois, a própria delegada se via numa situação difícil. Um grupo de 14 policiais da cúpula da polícia, 11 deles delegados, foi preso, acusado de receber propina de bicheiro. Entre eles estava Inaldo Júlio Santana, seu homem forte no departamento e também seu namorado. A investigação não a atingiu. Lembro o caso porque Marta sabe como o crime é insidioso e pode bater à porta.
Ontem, na entrevista em que a delegada foi apresentada como a nova chefe, Beltrame fez um desagravo a Turnowski. Era “politics” — e da ruim — que não servia à “policy” nem à “police”. Não estou acusando o ex-chefe de nada, a não ser de uma coisa: irresponsabilidade! Ainda que o delegado Cláudio Ferraz fosse culpado do que acusava a tal carta anônima que ele recebeu, um chefe de Polícia Civil não deflagra uma operação como aquela, ao arrepio do secretário de Segurança Pública. Não houve uma só pessoa que não tenha entendido aquilo como uma vingança da pior espécie. O desagravo de Beltrame não combina com essa ação.
O Rio pode, sim, diminuir drasticamente a violência e o poder do narcotráfico e das milícias. Para tanto, tem de perseguir e PRENDER bandidos, dentro ou fora da Polícia.
 

Por Reinaldo Azevedo

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