sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

ARMADOS E DESARMADOS




Por Olavo de Carvalho, no Diário do Comércio, em 20 de fevereiro de 2013

         

O Homeland Security está distribuindo às escolas, igrejas, clubes e outras instituições um vídeo em que ensina como reagir a um invasor armado de pistola, rifle ou metralhadora. Receita número um: saia correndo. Número dois: esconda-se debaixo da mesa. Número três: ataque o sujeito com uma tesoura, um hidrante, um cortador de papéis, um grampeador ou algum outro instrumento mortífero em estoque no almoxarifado. E assim por diante . (Não é gozação minha. Veja em http://www.youtube.com/watch?v=5VcSwejU2D0).       


A hipótese de manter um guarda armado ou de permitir que funcionários habilitados portem armas não é nem mesmo mencionada. É exorcizada. Há lugares, é claro, onde o exorcismo não funciona: a comissão de educadores da cidade de Newtown, aquela onde duas dezenas de crianças morreram assassinadas por um atirador alucinado, já declarou que vai seguir a sugestão da National Rifle Association e não as lições sapientíssimas do Homeland Security.


Para sua própria proteção, é claro, o Homeland Security apela ao remédio exatamente inverso daquele que recomenda aos outros. Alegando, vejam só, "defesa pessoal", o departamento acaba de comprar sete mil fuzis AR-15 – aquele mesmo que o governo quer tomar dos cidadãos – e dois bilhões, sim, dois bilhões de balas hollow point, daquelas que espalham estilhaços no corpo da vítima. Essa munição é proibida para uso militar pela Convenção de Genebra, só podendo ser usada, portanto, contra a população civil. O inferno não está cheio só de boas intenções.


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

UM ESQUERDISTA PODE TUDO




Ser de esquerda, no Brasil, significa ter um salvo-conduto para defender todo tipo de atrocidade e cair nas maiores contradições. É o monopólio das virtudes após décadas de lavagem cerebral demonizando a direita liberal ou conservadora.

Um esquerdista pode, por exemplo, mostrar-se revoltado com o regime militar, tentar reescrever a história como se os comunistas da década de 1960 lutassem por democracia e liberdade, tentar mudar o nome até de ponte, e logo depois partir para um abraço carinhoso no mais velho e cruel ditador do continente, Fidel Castro.

Um esquerdista pode, também, repudiar o “trabalho escravo” em certas fazendas brasileiras, o que significa não atender às mais de 200 exigências legais (incluindo espessura de colchão), e logo depois aplaudir o programa Mais Médicos do governo Dilma, que trata cubanos como simples mercadoria.

Um esquerdista pode tentar desqualificar uma médica cubana que pede asilo político, alegando que tinha problemas com bebida e recebia amantes em seu quarto (é proibido isso agora?), para logo depois chamar de preconceito de elite qualquer crítica ao ex-presidente chegado a uma cachaça e a “amizades íntimas”.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

TEORIA DO BODE




Antonio Gramsci e a teoria do bode

Olavo de Carvalho
IEE, Edição Nº31 - 29 de Outubro de 2002



Num debate de que participei na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, estava eu a expor a estratégia gramsciana da ocupação de espaços e da fabricação de consensos, quando meu oponente, desejando enaltecer a figura do ideólogo italiano que minhas palavras pareciam depreciar, alegou ser ele hoje em dia o autor mais citado em trabalhos universitários no Brasil e no mundo.

A plateia não resistiu: explodiu numa gargalhada. Nunca uma pretensa refutação confirmara tão literalmente as afirmações refutadas.

Mas a alegação em favor de Gramsci é correta. Se há um consenso imperante nos meios acadêmicos ao menos brasileiros, é aquele que faz do fundador do Partido Comunista Italiano o mais importante dos pensadores, mais importante, sob certos aspectos, do que o próprio Karl Marx.

Esse consenso produziu-se aliás pelos mesmos meios preconizados por Gramsci para a imposição de qualquer outra ideia: primeiro os adeptos da ideia "ocupam os espaços", apropriando-se de todos os meios de divulgação; depois conversam entre si e dizem que as conclusões da conversa expressam o consenso universal.

Os que estão nas ruas na Venezuela querem é democracia; os black blocs no Brasil são é bandidos

Milhares de estudantes voltam às ruas na Venezuela (Foto: Christian Veron/Reuters)



Recebi aqui de um leitor um arrazoado bastante capenga, afirmando que uso “dois pesos e duas medidas” para avaliar os protestos na Venezuela e no Brasil. Eu seria favorável às manifestações lá e contrário aqui. Pra começo de conversa, peço um favor: vamos usar a expressão com correção. O certo para indicar o que o rapaz tentou dizer é “um peso e duas medidas” — porque desequilibraria a balança, entenderam? Quem diz que o outro usa “dois pesos e duas medidas” só o está acusando de ter sido justo… Não sei se me fiz entender. Mas sigamos.

A Venezuela, técnica e praticamente, é uma ditadura, e o Brasil, felizmente, é uma democracia plena. Ainda é, e vamos lutar para que continue assim. Neste domingo, milhares de estudantes voltaram às ruas de Caracas para protestar contra o governo e contra encapuzados que têm se infiltrado nas manifestações — aquelas, sim, pacíficas — para promover a violência e o caos. Uma nova convocação foi feita para esta segunda.

Na semana passada, três pessoas morreram a tiros em manifestações de rua, dezenas ficaram feridas, e há nada menos de 200 presos — três deles são jornalistas. Os tumultos foram promovidos, já está mais do que claro, por milícias chavistas armadas, que se infiltraram entre os que protestavam para promover o quebra-quebra e a depredação. Isso forneceu ao ditador Nicolás Maduro o pretexto para uma onda repressiva sem precedentes, com ordem para prender políticos de oposição. Um deles, Leopoldo López, está foragido, e a polícia o caça país afora. Maduro o acusa, acreditem, de terrorismo e de tramar um golpe no país. É um lunático. Neste domingo, anunciou a expulsão de três diplomatas americanos, que, segundo ele, estariam envolvidos em conspiração. É o velho truque dos malandros latino-americanos: quanto tudo vai mal, basta culpar os EUA.

VIOLÊNCIA NA CABEÇA




O medo está em alta no Brasil. O medo da violência cresce, e não só por causa de eventos isolados. A ampla cobertura da morte do cinegrafista Santiago Andrade ajudou a manter o tema em evidência, mas a preocupação com a própria segurança cresceu na cabeça dos brasileiros muito antes de o jornalista ter sido atingido mortalmente por um rojão durante uma manifestação.

A pesquisa Latinobarômetro, feita logo que os protestos explodiram em 2013, já mostrava o agravamento da percepção de violência. Indagados a respeito da situação da segurança pública, a maioria absoluta dos brasileiros respondeu "ruim" ou "muito ruim". Essa taxa cresceu de 40% em 2010, para 48% em 2011 e chegou a 54% em 2013. É uma tendência que afeta profundamente o panorama eleitoral, em especial para os governadores.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

LIXO DA GLOBO CRITICA POLÍCIA E ENDEUSA BANDIDOS




Como o Black Bloc matou as manifestações

Com desrespeito às instituições, intolerância e práticas violentas, mascarados expulsaram o cidadão comum dos protestos. Agora, tentam justificar a morte de um cinegrafista citando “outras mortes da PM”. Agem, assim, como quem tolera a ação de justiceiros

Em um vídeo de apoio às manifestações, publicado em outubro do ano passado, a atriz Camila Pitanga lançava a pergunta: “Vai precisar ter morte? Porrada já está rolando”, alertava, seguida de uma sequência de depoimento de famosos. 

O testemunho de Camila, assim como todas as críticas “à violência” nas manifestações, tratava a truculência como uma exclusividade das forças policiais, e culpava “a mídia” por acobertar esses abusos. Brasil afora, houve e há excessos da PM em situações muito além dos protestos – e é “a mídia” quem os apresenta. 

A morte pela qual ansiavam os mascarados veio na última quinta-feira, e, mais uma vez, graças às câmeras de fotógrafos e cinegrafistas “da mídia”, soube-se que os assassinos eram mascarados – um desastre para quem torcia por um assassinato com assinatura da polícia.

ENVOLVIMENTO DE AUTORIDADES COM OS BLACK BLOCS MOSTRAM COMO O PT APARELHOU O ESTADO COM GENTE DO PARTIDO



Página do Black Bloc faz ameaça a quem revela detalhes do grupo

Mensagem publicada nesta sexta-feira acusa integrantes do movimento de vazamento de informações e avisa que "falsos manifestantes" serão denunciados

Um dia depois da revelação de uma planilha de gastos e arrecadações para um evento na Cinelândia, no qual aparecem os nomes de dois vereadores, de um delegado e de um juiz como doadores, a página “Black Bloc RJ” fez uma ameaça a integrantes do movimento a quem acusam de traição.