Já acreditei em muitas mentiras, mas há
uma à qual sempre fui imune: aquela que celebra a juventude como uma época de
rebeldia, de independência, de amor à liberdade. Não dei crédito a essa
patacoada nem mesmo quando, jovem eu próprio, ela me lisonjeava. Bem ao
contrário, desde cedo me impressionaram muito fundo, na conduta de meus
companheiros de geração, o espírito de rebanho, o temor do isolamento, a
subserviência à voz corrente, a ânsia de sentir-se iguais e aceitos pela
maioria cínica e autoritária, a disposição de tudo ceder, de tudo prostituir em
troca de uma vaguinha de neófito no grupo dos sujeitos bacanas.
O jovem, é verdade, rebela-se muitas
vezes contra pais e professores, mas é porque sabe que no fundo estão do seu
lado e jamais revidarão suas agressões com força total. A luta contra os pais é
um teatrinho, um jogo de cartas marcadas no qual um dos contendores luta para
vencer e o outro para ajudá-lo a vencer.