Cuide
de seus olhos
Se
eles estão funcionando bem, são o principal órgão sensorial, as janelas por
onde o cérebro percebe o mundo. E o melhor: a maioria dos problemas pode ser
evitada com uma visita ao oftalmologista.
Glaucoma, descolamento de
retina, retinopatia diabética, catarata e degeneração macular relacionada à
idade (DMRI). Todas essas doenças oculares têm em comum a inquietante propensão
de gerar milhões de cegos entre nós, nem sempre em uma idade avançada.
Mas,
para nossa sorte, a imensa maioria desses casos pode ser detectada e tratada
antes que se instale e cause danos irreversíveis. Basta uma visita ao
oftalmologista.
Por exemplo, o
descolamento de retina (separação da retina da parte de baixo que a sustenta, o
que causa a perda progressiva do campo visual) é precedido de rasgos indolores
que se manifestam por perda de visão e aparição de brilhos de luz, manchas e
riscos flutuantes no campo visual. Nesse estágio, as lesões de desgaste na
retina podem ser tratadas com o raio laser ou com a sonda congelada
(criopexia), mas um exame regular de fundo de olho com um simples oftalmoscópio
teria permitido detectar mais cedo a lesão e simplificar enormemente o
tratamento.
Qualquer anomalia ocular
não detectada precocemente pode impedir o desenvolvimento da visão e deixar
sequelas para o resto da vida. Por isso, é essencial a prevenção, que deve
começar desde cedo. Os olhos dos recém-nascidos devem ser examinados pelo
médico para descartar infecções e desordens. Antes dos 5 anos, o pediatra
avaliará se o pequeno tem a mesma capacidade de visão em ambos os olhos, um
problema refrativo ou um desajuste no alinhamento ocular. A partir dos 5 ou 6
anos, quando as crianças começam a frequentar a escola, as exigências visuais
aumentam.
Contar com um sistema visual livre de disfunções binoculares
(estrabismo ou não), acomodativas (sistema de foco) ou oculomotoras, assim como
um bom processamento da informação visual (percepção visual), são
indispensáveis para o rendimento adequado da visão e, por consequência,
escolar.
Um erro acomodativo, por
exemplo, pode conduzir à falta de concentração. Problemas na percepção visual
se traduzem em más caligrafia e ortografia, bem como em uma péssima memória
visual. As falhas binoculares não estrábicas desestimulam a leitura e o estudo.
E as complicações oculomotoras tornam impossível uma boa leitura. Por sua
parte, os erros refrativos dificultam a visão do que se escreve e se desenha no
quadro-negro, enquanto a lateralidade cruzada inverte letras e números e
confunde direita e esquerda.
A detecção precoce desses
problemas é fundamental para o correto tratamento. “Não se pode esquecer que a
visão infantil não se forma completamente até os 10 anos de idade, o que
permite uma solução da doença ocular se ela for detectada a tempo”, diz o
médico Enrique Chipont, do Instituto Oftalmológico de Alicante, na Espanha.
Óculos, lentes, terapia visual e, em certos casos, cirurgia evitam ou retardam
o aparecimento de males maiores.
Além dos exames
oftalmológicos, o cuidado com a vista exige alguns hábitos de higiene e
comportamento corretos. Por exemplo, a forma de assistir TV e de trabalhar no
computador, o tipo de iluminação que usamos para a leitura, a dieta que
seguimos, a automedicação – por exemplo, usar colírios sem receita médica – ou
os óculos de sol que escolhemos podem afetar nossos olhos. Sobre esse último
ponto, os oftalmologistas advertem que os óculos vendidos fora dos centros
especializados, como os de camelôs, não reúnem os requisitos mínimos de
qualidade para proteger os olhos da radiação solar e podem ser prejudiciais à
visão.
Males
evitáveis
Prevenir é mesmo a
palavra-chave quando o assunto é manter a qualidade da visão. Uma pesquisa
feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que mais de 161 milhões
de pessoas no mundo têm a visão reduzida – das quais 37 milhões são cegas.
Nada
menos do que 75% das ocorrências de cegueira poderiam ter sido evitadas. No
caso do glaucoma – o maior causador de cegueira sem cura no Brasil –, a
prevenção é bem simples. O transtorno é provocado por um forte aumento da
pressão ocular, que costuma ser propiciado por uma eliminação deficiente do
humor vítreo, um gel claro que preenche a parte interna do globo ocular. A alta
pressão destrói o nervo óptico e, em casos avançados, leva o paciente à
cegueira irreversível. “A pressão intra-ocular pode ser medida com exames
rápidos e indolores, assim como o estado da retina e do nervo óptico”, diz o
médico Daniel Elies, responsável pela Unidade de Glaucoma do Instituto
Oftalmológico de Barcelona, na Espanha.
No Brasil, estima-se que
existam 900 mil pessoas com glaucoma. Como 80% dos casos não apresentam
sintomas, não é raro que o paciente só descubra a doença quando a visão num dos
olhos já esteja quase perdida. “Não se pode prevenir a chegada do glaucoma, mas
sim a cegueira. Por isso, o diagnóstico precoce e a fidelidade no tratamento
são importantes”, diz o oftalmologista Paulo Augusto de Arruda Mello, professor
da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Outro fantasma silencioso
é a diabete – terceira na lista de causas de cegueira no Brasil. Mais de 10
milhões de pessoas sofrem com ela no país, mas só a metade sabe disso, afirma o
endocrinologista Filippo Pedrinola. E tanto os que estão sem diagnosticar
quanto os que recebem tratamento correm um alto risco de perder a visão se não
forem acompanhados pelo oftalmologista.
O excesso de glicose no
sangue engrossa as paredes dos delgados vasos que irrigam a fina membrana
retiniana, o que os debilita e, em consequência, os torna mais propensos às
deformações e fugas de sangue. Em alguns casos, aparecerá um edema que afetará
rapidamente a visão. Em outros, a retina deixará de estar irrigada, o que
desata o crescimento anárquico de novos capilares. Isso pode acarretar
hemorragias e, às vezes, descolamento de retina. Essas lesões poderiam ser
evitadas com o controle da diabete, a manutenção da pressão arterial em níveis
normais e um exame oftalmológico anual.
Atenção
a partir dos 40 anos
Mais complicada é a
degeneração macular relacionada à idade (DMRI). Embora seja considerada a
primeira causa de falta de visão em pessoas com mais de 65 anos, ninguém até
agora conseguiu explicar por que a mácula, a zona da retina onde reside 90% da
visão, se decompõe inexoravelmente. No Brasil, são quase 3 milhões as pessoas
acima de 65 anos com DMRI, segundo um estudo publicado no informativo Perfil,
do Conselho Brasileiro de Oftalmologia.
A DMRI pode ser detectada
pelo oftalmologista mediante o clássico reflexo de fundo de olho, que hoje
conta com uma tecnologia sofisticada para estudar milimetricamente a saúde
retiniana. Antes que o paciente note as primeiras moléstias, o especialista
reconhece alguns depósitos compactos branco-amarelados distribuídos pelo centro
da retina, assim como compactações de pigmentos na mácula. Em casos avançados,
concretamente na chamada degeneração macular úmida, a angiografia fluorescente
permite visualizar a proliferação patológica de novos vasos sanguíneos que só a
terapia fotodinâmica é capaz de destruir.
Salvo exceções, essas
terríveis doenças oculares iniciam sua evolução depois dos 40 anos. Coincidem
assim com os primeiros sinais da presbiopia, mais conhecida como “vista
cansada”. Seus sintomas: dor nos olhos ao ler, vista embaçada, extensão dos
braços para ler livros e jornais, impossibilidade de focar os objetos por muito
tempo. As causas: perda de elasticidade do cristalino e diminuição da
capacidade de contração do músculo ciliar para mover os ligamentos dessa lente.
Condição fisiológica e não patológica que acaba afetando todo mundo, a
presbiopia constitui uma ocasião de ouro para aqueles que sempre adiam a
consulta oftalmológica. Obviamente, esses não são exemplos a seguir.
Nem sempre as doenças
interferem na acuidade visual. Outros sintomas e manifestações não vinculados à
perda de nitidez podem ser um sinal de alerta – por exemplo, a dificuldade em
calcular as distâncias e em seguir os objetos em movimento ou a leitura e a
escrita deficientes.
Olhe por seus olhos. Se ao
longo da vida realizar exames periódicos da visão, você será recompensado
durante a velhice. Esteja certo disso.
Alimentos
que fazem bem à vista
Cinco vitaminas presentes
em frutas e verduras são essenciais para o bom funcionamento dos olhos e para
prevenir os problemas ópticos
Vitamina
- A
Efeitos
-
Seu déficit provoca a diminuição da acuidade visual ao escurecer, conjuntiva
ressecada, ulceração da córnea e inflamação das pálpebras
Onde
se encontra - Cenoura, espinafre, tomate, fígado, gema
de ovo, laticínios
Vitamina
- C
Efeitos
-
É importante para prevenir a degeneração macular relacionada à idade (DMRI)
Onde
se encontra - Cítricos e outras frutas, tomate, couve
crua, melão, verduras de folhas verdes
Vitamina
- E
Efeitos
-
Potente antioxidante que, combinado a outras vitaminas, pode reduzir o risco de
cataratas e de degeneração macular
Onde
se encontra - Maçã, abacate, ameixa, tomate, aspargo,
banana, melão
Vitamina
- B2 (Riboflavina)
Efeitos
-
Protege os olhos e preserva das cataratas
Onde
se encontra - Verduras, leite, farinha integral,
levedura de cerveja
Vitamina
- Luteína
Efeitos
-
Protege os olhos da radiação solar nociva. É eficaz para prevenir cataratas e
DMRI
Onde
se encontra - Espinafre, abóbora, tomate, pimentão,
milho, brócolis
Como
enxergamos
Os globos oculares ficam
alojados dentro de cavidades ósseas chamadas órbitas. É por meio deles que
recebemos a luz e formamos as imagens. Mas, na verdade, enxergamos com o
cérebro.
Os raios de luz que partem
de um objeto chegam aos olhos e passam por duas lentes convergentes – primeiro
a córnea e depois o cristalino. Essas lentes fazem com que a direção da luz
seja alterada para que os raios caiam sobre a retina, onde se localizam os
receptores fotossensíveis que codificam esse estímulo luminoso em sinais
elétricos que viajam pelo nervo óptico até os centros da visão no cérebro. A
quantidade de luz que o olho deve deixar entrar é controlada pela pupila, que
se fecha em lugares muito iluminados e se dilata quando na escuridão. O
movimento dos olhos é controlado por músculos extrínsecos. O cérebro comanda
esses movimentos para que os olhos se dirijam de forma coordenada a um mesmo
ponto.
Em
todos os lugares
Os olhos exigem atenção permanente.
Veja abaixo os cuidados que você deve adotar nas situações mais comuns do
dia-a-dia
Na
praia
O sal do mar pode causar
irritação dos olhos. Lave-os sempre com água doce. Não use lentes.
Na
piscina
O cloro da água irrita e
pode danificar os olhos. Use sempre óculos de natação adequados e não use
lentes.
Em
locais ensolarados
Existe uma relação direta
entre a radiação solar e a catarata. Use óculos de sol e boné. O reflexo da luz
solar pode produzir conjuntivites. Nunca olhe o Sol diretamente.
Em
lugares climatizados
Procure evitar a exposição
prolongada ao ar-condicionado, que resseca o ambiente e pode prejudicar os
olhos.
Em
sala de aula
A leitura e a atenção ao
quadro-negro podem causar dor de cabeça nas pessoas com problemas de visão. É
preciso usar lentes caso exista um problema visual.
Diante
da TV
Até hoje não foi
demonstrado que ver TV provoque transtornos oculares. No entanto, como medida
de precaução, mantenha sempre uma distância prudente e nunca assista TV em
ambientes completamente escuros.
Ao
se maquiar
Os cosméticos podem causar
irritação, alergia e inflamação dos olhos. Use sempre produtos aprovados, sem
perfume e hipoalergênicos. Não use cosméticos de outras pessoas e evite as
sombras que provoquem alergias. Não aplique cremes muito perto do globo ocular.
Ao
praticar esportes
A prática de certos
esportes pode colocar em risco a integridade dos olhos. Use sempre um protetor
ocular recomendado para o esporte que pratica. Em certas modalidades, como
esqui e montanhismo, use sempre óculos de sol para proteger a vista dos raios
UV. E utilize sempre cristais de policarbonato quando houver perigo de impacto.
No
computador
Não há evidência
científica de que o uso prolongado do computador cause danos oculares, embora
possa agravar algumas deficiências ópticas e causar a fadiga visual. Para
prevenir essas situações, recomenda-se o uso de monitores com boa resolução,
que emitam baixa radiação, que tenham incorporado um sistema anti-reflexo ou
que incorpore um filtro especial. Trabalhe em local com luz homogênea, situe o
monitor a 50 cm dos olhos e nunca de frente ou de costas para uma janela.
Descanse 15 minutos a cada duas horas.
Teste
Como
está sua visão?
A bateria de testes abaixo
não substitui a consulta periódica ao oftalmologista, mas serve como o primeiro
alerta para detectar uma possível anomalia visual. Faça os testes sempre com
luz natural.
Astigmatismo
Situe-se a uma distância
de leitura e observe estas imagens com cada olho em separado – não toque nem
pressione o olho tapado. Mova e gire a folha.
Resultado: se enxergar
algumas ou todas as listras borradas ou de cor mais clara (tons de cinza), você
sofre de astigmatismo.
Miopia
e hipermetropia
Acomode-se a uma distância
de leitura e tente determinar em qual dos lados – vermelho ou verde – vê a
letra E mais nítida e escura.
Resultado: se você
enxergar melhor o E no lado vermelho, provavelmente é míope. Se o E parecer
mais nítido na área verde, pode ter hipermetropia. Se for indiferente, talvez
não sofra nenhum desses problemas refrativos.
Visão
binocular
Faça um tubo com uma folha
e coloque-o com a mão direita diante do olho direito. Ponha sua mão esquerda no
extremo do tubo, como indica a figura.
Resultado: se sua visão
binocular for correta, verá sua mão esquerda como se estivesse perfurada.
Percepção
da distância
Ponha o braço esquerdo de
forma a estender o dedo indicador para baixo na altura dos olhos. Tente tocar o
indicador esquerdo no indicador da mão direita de maneira bem rápida, como
mostra a figura.
Resultado: se sua
profundidade de campo for perfeita, você conseguirá passar na prova na primeira
tentativa.
Visão
lateral
Fixe o olhar em um ponto
situado a 5 m de distância. Estenda os braços para a frente com os polegares na
altura dos olhos e, sem deixar de olhar o ponto de referência nem mover a cabeça
ou os olhos, comece a abrir os braços até que deixe de ver os polegares.
Resultado: se sua visão
lateral for correta, os braços ficarão equidistantes do eixo vertical.
Sensibilidade
a cores
Observe este desenho de
pontos a 40 cm de distância com um olho de cada vez.
Resultado: se sua visão
for correta, verá o número 182. Se sofrer certo grau de daltonismo, ou seja,
uma carência de sensibilidade a determinadas cores, como vermelho, azul e
verde, os números desaparecerão parcial ou totalmente.
Fonte: Revista
Superinteressante, em:
http://super.abril.com.br/saude/cuide-seus-olhos-446370.shtml
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