quinta-feira, 28 de julho de 2011

HERANÇA DE PAULO HARTUNG

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Governo ‘usa’ Repórter Record para enaltecer as ações da polícia, mas tiro sai pela culatra

Fonte: SéculoDiário


Bem que a assessoria do governo tentou, mas a reportagem do Repórter Record sobre a criminalidade na Grande Vitória, que foi ao ar nesse domingo (25), não deve ter saído exatamente do jeito que o governador Renato Casagrande queria. O secretário de Segurança, Henrique Herkenhoff, que deu sinal verde para a reportagem sair a tiracolo com a polícia, perdeu mais essa.
Para o telespectador mais atento, ficou visível o despreparo da polícia nas abordagens. Pior. A reportagem acaba revelando que o governo que se esforça para emplacar o programa “Estado Presente”, na verdade, tem se saído mal na batalha diária contra o crime organizado.
 
Com a narração do jornalista Marcelo Rezende, a reportagem intitulada “Vitória, uma ilha de todos os crimes”, abre o programa de mais de 47 minutos de duração com a prisão de um dos matadores de mulheres mais procurados do Espírito Santo.
No estilo “Aqui e Agora”, “Cidade Alerta” e outros congêneres que dão tom de realidade às caçadas urbanas de polícia versus bandidos, a reportagem mostra a prisão de dois matadores de aluguel. Rezende acrescenta, de maneira rasa, que os crimes de pistolagem no Espírito Santo tiveram origem na década de 1970, com a fuga de policiais do Esquadrão da Morte do Rio de Janeiro para o Vitória. Na verdade, os crimes de encomenda no Espírito Santo tiveram início na década de 1950, com o surgimento de lendários pistoleiros de aluguel, a maioria deles nascidos no interior do Estado, onde a prática da pistolagem era mais comum.
Controvérsia à parte, a reportagem procura mostrar a presença da polícia no combate ao crime. Para passar profissionalismo e dar tons “hollywoodianos” à reportagem, os policiais do Grupo de Operações Táticas (GOT) que “encenam” a matéria foram escolhidos a dedo. Tudo seguia dentro da pauta, até que na edição o apresentador incluiu um dado nada simpático para o Espírito Santo. Como a reportagem tratava do assassino de mulheres, Rezende lembrou que há 10 anos o Espírito Santo é o Estado onde mais se mata mulheres no Brasil: uma a cada três dias.
Depois, para fazer uma média com o governo, a reportagem registrou que o número de homicídios na Capital capixaba caiu nos primeiros quatro meses do ano. Durante todo o programa, as estatísticas vão sendo enxertadas nas reportagens. Dependendo do ponto de vista, todas negativas para o governo.
Quando o Repórter Record exibe uma perseguição a dois suspeitos por furto de moto, mostra as estatísticas de roubo no Estado: “são roubadas 1.200 motos, seis por dia no Espírito Santo”, mais um dado que mostra que a polícia não vai mal apenas no combate aos crimes contra à vida, mas também aos crimes contra o patrimônio.
Mas o pior estaria por vir. A abordagem truculenta da polícia a um grupo de adolescentes, algumas com 12 anos de idade, que seriam suspeitas de vender drogas na porta de suas casas, soa como derrota para o governo. O policial, mostrando autoridade, ordena que as meninas se deitem no chão em posição vexatória. Não satisfeito com a violência, o policial algema desnecessariamente uma menina de 15 anos. Uma policial feminina é chamada para fazer uma revista em público na frente das câmaras. Sem discrição alguma, a policial apalpa as partes íntimas das jovens a procura de drogas e armas.
Depois da cena esfuziante da abordagem, o policial tira as algemas da adolescente para ela dar entrevista ao repórter. As adolescentes choram e lamentam a vida. Uma pragueja a colega, dizendo que tudo estava dando errado por culpa dela. Em resumo, a cena revela a derrota do governo para o crime organizado, que está aliciando crianças de 12 anos, como mostrou a reportagem, para o tráfico de drogas. A reportagem não comenta nada sobre o programa “Estado Presente”, que, parece, ainda não deu as caras no bairro exibido na matéria.
Rezende alerta que o tráfico de drogas no Estado tem crescido nos últimos anos. Ele diz que a polícia faz pelo menos uma grande apreensão de drogas por plantão. Em seguida, o jornalista informa os números da polícia: “Foram apreendidas 109 kg de cocaína, 70 de crack e uma tonelada de maconha”. Ele acrescenta que, só este ano, a polícia prendeu cinco mil pessoas, a maioria envolvida com o tráfico de drogas e armas.
Já próximo ao final, a reportagem mostra uma casa de veraneio em Guarapari repleta de drogas e armas, que seria usada como um QG do crime organizado. No encerramento, a reportagem mostra o desfecho de um tiroteio envolvendo, supostamente, pistoleiros rivais que disputam o comércio de armas e munição na Grande Vitória.
No final das contas, se o governo tinha a intenção de mostrar a eficiência da polícia e a presença forte do Estado no combate ao crime organizado, se deu mal. Ou, como se diz na gíria, o tiro deve ter mascado e acabou saindo pela culatra. Pior, acertou o pé do governo.



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