domingo, 23 de janeiro de 2011

TODOS CONTRA A PEDOFILIA! MAS SERÁ QUE SÃO TODOS MESMO?

Por Eugênio Espíndula Borgo - Investigador de Polícia

Entre os mais variados desvios do comportamento humano, a pedofilia está, sem dúvida alguma, entre aqueles que mais repugnam a sociedade.

Pedófilo, ninguém engole.

Assim, não por acaso sua repressão foi escolhida como bandeira a ser erguida por alguns candidatos a cargos eletivos. A idéia de aproveitar determinada comoção social para oportunamente traduzi-la em votos não é nova, mas mesmo assim, com a habilidade dos discursos e a providencial colaboração da mídia, os frutos colhidos ainda são de ouro.

Tudo bem. O eleitor é senhor do seu destino e escolhe quem quiser para representá-lo.

O que já não se pode aceitar mais, sem ao menos um juízo de severa reprovação, é que depois de eleitos, com vários instrumentos de concretização dos seus discursos nas mãos, esses políticos continuem a gastar muito mais palavras e dinheiro público do que atitudes efetivas.



Reflexo dessa mazela politiqueira é a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente – DPCA – que seria uma das principais, senão a principal – linha de frente no combate aos crimes praticados contra aqueles que têm sua capacidade de autodefesa reduzida em razão da pouca idade.



Examinando sua finalidade e estrutura, ainda que panoramicamente, para fundamentar satisfatoriamente nosso repúdio, temos que a DPCA é porta de entrada para início da persecução penal do Estado a todos os crimes cometidos contra crianças e adolescentes na região metropolitana da Grande Vitória.



Entre esses crimes, a pedofilia dispara na frente dos demais, atingindo jovens nessa faixa etária, nas diversas camadas sociais, notadamente as mais desfavorecidas.



E é justamente porque atinge com mais contundência os pobres, moradores dos mais distantes recônditos dos cinco Municípios componentes dessa região, que a DPCA deveria ter seu atendimento descentralizado em várias delegacias levadas para mais perto dos domicílios de seu público alvo.



Faz-se necessário com urgência que cada Município disponha de uma delegacia com especialização no atendimento da criança e adolescente vítima de crime. Com idêntica celeridade, para completar a iniciativa, dotar-se-ia cada qual de efetivo policial e recursos materiais bastantes para atender decentemente os casos que se multiplicam todos os dias.



Para citar somente um exemplo consequente da má-vontade estatal, mencione-se o fato lamentável de uma criança que reside em Baía Nova, longínquo recanto de Viana, ver-se obrigada juntamente com seu responsável ao deslocamento até o bairro de Jucutuquara, na Capital, onde se situa a DPCA, para pedir socorro e providências contra seus agressores.



Havendo dinheiro para as passagens de ônibus e vencidas as penosas horas no transporte superlotado, essa criança e seus responsáveis encontrarão uma delegacia de polícia assoberbada em sua função por causa dos poucos policiais para atender a demanda de seus crimes específicos.

E se for daquelas vítimas que, além do infortúnio sofrido, a pouca sorte ainda persiste e lhe remete a uma necessidade de constituir prova mais complexa que uma simples prisão em flagrante do acusado, depois de alguns anos verá o seu drama ser transformado num monte de papéis empoeirados e esquecidos numa prateleira de delegacia de polícia ou promotoria de justiça.

De concreto mesmo, somente a dor eterna da violência sofrida e da inocência arrancada.



Situações parecidas se somam dia após dia, mudando-se apenas os atores principais e coadjuvantes.



Não há estrutura física para atender a todos. Não há policiais suficientes para investigar nem mesmo uma porcentagem ridícula do total de crimes cometidos.

Da mesma forma, faltam vontade e vergonha política para reverter esse quadro.



Não se pode olvidar, para percebermos com mais nitidez a gravidade da situação, que a prisão do maior número de criminosos, além de satisfazer a sede de justiça, é inegável fator psicológico para inibir a prática daquele crime que ainda está sendo apenas cogitado na mente pervertida. Reduzir a impunidade, além de reforçar o império da lei e de suas sanções, é também uma das mais importantes formas de prevenção.



Portanto, senhores do ramo, menos discursos carentes de sinceridade, menos camisetas pretas com frases de impacto, menos poses e entrevistas sob os holofotes da mídia. E mais, muito mais ATITUDE positiva. É o que a criança ou adolescente vítima de violência realmente precisa para tentar superar seu trauma e construir um futuro com a mínima chance de felicidade.



Usar a desgraça desses pequenos para a promoção pessoal traz uma repugnância tão grande que qualificá-la suficientemente exigiria mais do que meras palavras.













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