Alckmin e Cardozo
anunciam agência para combater crime organizado em SP
Outra ação conjunta do estado com a União é a transferência
de presos envolvidos na morte de agentes públicos para presídios federais
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciaram nesta terça-feira um
conjunto de ações para frear a onda de criminalidade no estado. Bandidos presos
por matarem policiais e agentes penitenciários serão transferidos para prisões
federais fora de São Paulo e será criada uma agência para integrar o trabalho
dos órgãos de inteligência das duas esferas de governo. Na próxima
segunda-feira, os chefes da segurança paulista e federal farão uma nova reunião
para assinar o acordo para criação da agência, acertar os detalhes de um plano
integrado para combate ao crack e bater o martelo sobre a estratégia de
policiamento em pontos críticos do estado. O envio da Força Nacional ao estado
foi descartada.
A Agência de Atuação Integrada terá o comando compartilhado
entre o superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Roberto Troncon Filho,
e o secretário-adjunto da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), Jair
Manzano. O órgão unirá representantes da PF, Polícia Rodoviária Federal,
Secretaria Nacional de Segurança Pública, Departamento Penitenciário Nacional,
Receita Federal, SSP, Secretaria de Administração Penitenciária, polícias
militar, civil e científica do estado, Secretaria da Fazenda, Ministério Público
e Tribunal de Justiça.
“Não se combate o crime organizado sem serviço de
inteligência eficiente. Somando esforços da inteligência estadual e federal
teremos relatórios precisos que orientarão as nossas políticas”, disse Cardozo,
depois de uma reunião de uma hora que uniu 29 integrantes da cúpula da
segurança do estado e do governo federal, no Palácio dos Bandeirantes, na
capital paulista. “Governo estadual e federal são muito mais fortes do que o
crime organizado. Seguramente, somando esforços, nós vamos derrotá-los.”
Só neste ano já foram executados 90 policiais. O governo
reconheceu que traficantes da favela de Paraisópolis ordenaram os ataques aos
PMs. A favela está ocupada pela polícia desde o dia 29 e a operação deve durar
um mês. Paraisópolis é importante do ponto de vista criminal por ter virado uma
espécie de esconderijo de traficantes do PCC e ladrões que agem no Morumbi.
Alckmin afirmou que os ataques dos criminosos são uma reação
ao trabalho das autoridades no combate ao crime. “As organizações criminosas
não têm fronteiras, por isso é fundamental trabalharmos unidos”, disse o
governador. “Quanto mais se age, mais reação tem, mas não é possível retroceder
um milímetro. É evidente que há reação. Nós não devemos temer as reações.
Devemos perseverar nesse trabalho.”
Depois de um desentendimento nos bastidores entre o
secretário de Segurança Pública paulista, Antonio Ferreira Pinto, e o ministro
da Justiça, os dois participaram da entrevista coletiva na tarde desta
terça-feira lado a lado e sopraram, um para o outro, complementos de respostas
a questionamentos dos jornalistas. “Política de segurança pública de
enfrentamento ao crime organizado tem de ser tratada em conjunto. Não são
políticas de governo, são políticas de estado”, afirmou Cardozo.
O ministro disse que os custos da ação serão compartilhados,
mas não precisou valores. Cardozo moderou o discurso, até então crítico em
relação ao governo de São Paulo, e disse que a reunião de hoje não se devia à
gravidade da situação no estado, mas a uma “ação nacional” para firmar
parcerias com vários estados.
Asfixia - O governador e o ministro usaram o termo “asfixia”
para se referir ao método de combate ao crime. A preocupação deles é secar as
fontes de financiamento das organizações, por isso haverá participação da
Secretaria Estadual da Fazenda e da Receita Federal nos trabalhos. “É uma ação
conjunta para asfixiar o crime organizado”, dizia uma anotação feita a lápis em
uma folha que servia de apoio à fala de Alckmin durante o pronunciamento. A
frase, no entanto, não foi proferida pela governador, que falou apenas em
“asfixia financeira” dos grupos.
O envio da Força Nacional de Segurança para São Paulo foi
descartada. “São Paulo tem 130.000 homens na polícia militar e 30.000 homens na
polícia civil. Não há a necessidade de, nesse momento, utilizar as Forças
Armadas”, disse Cardozo. Ainda assim, haverá um plano de reforço no
policiamento para controlar os acessos ao estado, chamado de “contenção”.
Os detalhes dessa ação serão definidos na reunião da próxima
segunda-feira. Participarão da operação homens das polícias rodoviárias federal
e estadual, da PF, da Segurança Pública, da Secretaria da Fazenda paulista e da
Receita Federal. Será dada uma atenção especial ao Porto de Santos.
O ministro da Justiça afirmou que não serão informados
detalhes, como nomes e datas, da transferência de presos, por razões de
segurança. A prioridade será levar para fora do estado presos que tenham
participado do assassinato de agentes de segurança nos últimos meses.
Combate ao tráfico de drogas - Alckmin assinou um acordo com
o ministério da Justiça para implantar no estado o programa federal de combate
ao crack. Entre as ações previstas está a compra de trailers para servir de
unidades móveis, com equipamentos de vídeo-monitoramento, para investigar e
controlar as ações de tráfico. O ministro informou que será usada uma estrutura
semelhantes a das bases comunitárias móveis da PM paulista.
Foi assinado ainda um protocolo de cooperação do governo
federal com a Polícia Científica paulista para identificar a origem da droga
apreendida nas operações federais. Existe a possibilidade de criar um centro
integrado de perícias, para que os especialistas de São Paulo colaborem com
outros estados.
Reunião - O encontro foi adiado em uma hora e começou às 14h,
com a presença de 29 autoridades. Alckmin, que inicialmente informou que não
participaria da reunião, resolveu se juntar aos convidados. Antes de seguir
para o encontro, Alckmin recebeu Cardozo para um café em seu gabinete.
Quem comandou a mesa foi o secretário-chefe da Casa Civil,
Sidney Beraldo. Participam, pelo governo de São Paulo, os secretários da
Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, da Administração Penitenciária,
Lourival Gomes, o delegado-geral do estado, Marcos Carneiro, e o comandante da
Polícia Militar, Roberval França.
Pelo governo federal, compareceram a secretária nacional de
Segurança Pública, Regina Miki, o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro
Daiello, e o diretor do Departamento Penitenciário Nacional, Augusto Rossini.
Está na sala ainda o procurador-geral de Justiça do estado, Márcio Elias Rosa,
e Fábio Bechara, coordenador do Gaeco, do Ministério Público estadual.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, a capital
paulista registrou aumento de 27% nos homicídios dolosos em setembro, na
comparação com agosto. Em setembro, 135 pessoas foram assassinadas.
Fonte: Revista Veja
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