Governo anuncia veto a projeto de
distribuição dos royalties
Fernanda Odilla, de Brasília
A presidente Dilma Rousseff vetou
artigo da lei aprovado pelo Congresso que previa redistribuição mais
igualitária dos royalties do petróleo de áreas em exploração e já licitadas.
Com a decisão, a presidente atende a pressão de Estados produtores de petróleo,
como Rio de Janeiro e Espírito Santo.
A próxima rodada de licitações
está prevista para maio, quando a medida provisória já deve ter sido discutida
e aprovada.
O anúncio foi feito no fim tarde
desta sexta-feira (30) pelos ministros Gleisi Hoffman (Casa Civil), Edson Lobão
(Minas e Energia), Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Aloizio
Mercadante (Educação), com quem Dilma se reuniu no Palácio do Alvorada. Também
participou do encontro na o advogado-geral da União, Luiz Inácio Adams.
O veto mais significativo,
segundo Gleisi Hoffmann, diz respeito aos contratos em vigor. "Haverá mais
quatro ou cinco vetos, são ajustes na lei", disse a ministra, sem especificar
quais.
Na prática, a presidente rejeita
as mudanças aprovadas pela Câmara para divisão de recursos de áreas já em
exploração e adia a decisão de redistribuir de forma mais igualitária os
recursos da produção de petróleo de campos futuros. Isso porque o texto da
medida provisória pode ser alterado por deputados e senadores.
Com o veto integral, contudo,
fica por ora mantida a legislação atual que destina a maior parcela dos
royalties dos campos em exploração aos Estados e municípios produtores. Pela
regra em vigor, os grandes Estados produtores como Rio, por exemplo, ficam com
26,25% dos royalties. Os não produtores recebem apenas 1,76%.
Para as futuras áreas, o texto da
medida provisória traz mudanças não apenas para a redistribuição das receitas
como também no uso desses recursos. "A distribuição é exatamente como a
aprovada pela Câmara", disse Mercadante, emendando que foi feito apenas um
ajuste para adequar à somatória das percentagens que ultrapassava os 100%.
Na nova divisão, se aprovada a medida
provisória como quer o governo, os Estados produtores devem ficar com 20% e os
municípios como 15% da receita de royalties a ser gerada na exploração dos
campos que ainda serão licitados na área do pré-sal. A União cai de 30% para
20%. Os não produtores vão receber até 2019 até 27% dos recursos das novas
áreas.
Pelo texto da medida provisória,
o governo destina toda receita dos royalties (União, Estados e municípios) para
educação. Com isso, a presidente Dilma viabiliza a proposta de investir no setor
10% do PIB (Produto Interno Bruto), que havia sido alterada pela Câmara.
A Medida Provisória também muda o
destino dos recursos do Fundo Social, criado para garantir investimentos dos
recursos do pré-sal em diferentes áreas do governo federal. Pela nova regra,
50% vai obrigatoriamente para a educação e o restante será usado em projetos de
saúde, meio ambiente.
CONTRATOS
Ontem, na véspera do prazo para
os vetos à lei, a presidente Dilma Rousseff afirmou que seu governo defende
"o rigoroso respeito aos contratos".
"É fato que nós defendemos o
crescimento e a estabilidade da economia. É fato que defendemos o rigoroso
respeito aos contratos. É fato que o estímulo aos investimentos produtivos e a
ação rigorosa em prol da indústria brasileira é uma das nossas
prioridades", afirmou a presidente em cerimônia no Palácio do Planalto
sobre novas regras do programa Brasil Carinhoso.
REAÇÕES
Antes do anúncio, o governador de
Pernambuco, Eduardo Campos, afirmou que o veto de Dilma não encerra o assunto.
Segundo ele, haverá reações e necessidade de mais negociação entre União,
Estados e municípios.
"O assunto não se encerra
aqui. A gente tem que ir com muita paciência até o ponto em que todos vão ceder
e todos vão ganhar."
Campos afirmou que há dois pontos
de vista --um jurídico e um político-- para a polêmica em torno de haver uma
suposta quebra de contrato. Os Estados produtores alegam que alterar a
distribuição da arrecadação atual com as compensações financeiras (royalties e
participação especial) pagas pela exploração do petróleo em campos já licitados
significa quebrar contratos.
"Vou fazer uma análise
jurídica e uma política. Do ponto de vista jurídico, existem pareceres que
mostram que o contrato [entre União e empresas] é para exploração do petróleo e
não para a distribuição dos royalties. Não há um contrato para a distribuição
do royalties. Essa é a visão do ponto de vista jurídico. Mas, do ponto de vista
político, mexer na receita corrente é mexer no contrato. Ou seja, você ter no
ano seguinte uma receita menor do que você tinha no anterior."
Campos discorda da aplicação
integral dos recursos dos royalties na educação. Ele defende a destinação
também para a área da ciência e tecnologia. "Queremos educação sim, pelo
efeito transformador que ele tem social, mas a área de ciência e tecnologia tem
um efeito econômico na competitividade da economia brasileira central. A gente
deveria focar nessas duas unidades de gasto."
"Não podemos tirar dinheiro
do Rio, com o qual ele já conta. Temos de nos colocar no lugar do outro. Não
podemos chutar o Rio e o Espírito Santo, nem eles e a União chutarem os outros
Estados. Não precisa bater em ninguém. Tem que saber entrar na pequena área e
fazer gol, sem machucar", disse. Avaliou que o estresse em torno do
assunto está extremo, porque está sendo discutido "num ambiente em que
está faltando pão".
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