domingo, 7 de agosto de 2011

LADAINHA ANTIGA



Homicídios no Espírito Santo se comparam a números de uma guerra civil

De janeiro até o dia 1º de agosto, 1006 pessoas foram assassinadas no Estado. Neste fim de semana, mais três morreram


Ao comparar a quantidade de homicídios registrados no Espírito Santo nos sete primeiros meses deste ano, a conclusão da própria Secretaria de Segurança Pública é: os números retratam uma guerra civil. De janeiro até o dia 1º de agosto, 1006 pessoas foram assassinadas no Estado, a maioria delas, 632, na Grande Vitória. O avanço do consumo e venda de crack é um dos motivos para essas mortes.

Só neste fim de semana, mais três homicídios foram registrados até a manhã deste domingo. Um em Vitória e outro, na Serra.  No fim da tarde mais uma ocorrência é registrada: pedreiro é assassinado com quatro tiros no quintal de casa em Cariacica. 


Apesar de ser um número alto, as estatísticas mostram que houve uma redução de 11,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Mas uma outra realidade surgiu nos últimos anos e tem trazido mais preocupação para a polícia. O traficante, que antes matava os usuários por causa de dívidas, agora está recrutando jovens de 17 a 24 anos para fazerem o serviço. E isso, automaticamente, aumenta a criminalidade, segundo avalia o delegado do Grupo de Operações Táticas da Polícia Civil, Fabrício Dutra.

"O criminoso, principalmente os que atuam no tráfico de drogas, sabe que esse tipo de pena é muito dura e a prisão é longa. Ele, então, busca outros caminhos para matar os devedores ou quem incomoda os negócios ilícitos. O traficante coopta pessoas - a maioria jovens com fragilidade social e que gostam de dinheiro mas não querem trabalhar -, e contratam para cometer o crime no lugar dele", destacou o delegado.

O secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, Henrique Herkenhoff, afirma que os números e a nova tática de alguns traficantes não condizem com os aspectos que figuram de atuação de grupos de extermínio. Para o secretário, quem morre geralmente tem o mesmo perfil de quem matou.

"Esses números, mesmo em queda, não são para comemorar. São números de uma guerra civil. O perfil da maioria das vítimas desses homicídios é o mesmo do autor do crime. Essas pessoas estão matando e morrendo. O usuário está se transformando em traficante, posteriormente em assassino e vice e versa", conta o delegado.

Passado marcante 

O elevado número de homicídios no Espírito Santo é herança de uma década quando a Justiça costumava ser feita com as próprias mãos. Muito conhecida dos capixabas que acompanhavam a situação crítica da segurança pública nos anos 80, a Scuderie Le Cocq, extinta em 2004, foi responsável por centenas de mortes no Estado.

O grupo é acusado de assassinar pessoas que se colocavam contrárias aos interesses dos associados. Apesar de ter surgido no Rio de Janeiro, no Estado a Le Cocq conseguiu reunir ao menos 800 associados. Entre os integrantes estavam policiais civis, militares, advogados, delegados de polícia, juízes, promotores, coronéis e políticos. 

À época o Estado não conseguia se fazer presente diante da influência dos lecoquianos. Ao assumir a Secretaria de Segurança Pública em 2003, o atual deputado estadual, Rodney Miranda, conta que o sentimento que pairava no Estado era de ilegalidade e impunidade. E essa sensação, salientou Rodney, favorecia a atuação do grupo.

A pistolagem era o crime mais comum à época. Do Espírito Santo, frisou o ex-secretário, mais precisamente da região Noroeste do Estado, saíram pistoleiros para toda parte do Brasil. Para Miranda, a morte do juiz Alexandre Martins de Castro Filho foi um clássico assassinato de mando contratado a um pistoleiro.

"Isso estava muito presente antes de 2003. Nós ainda pegamos esse clima ainda em 2003. O exemplo mais clássico e doloroso foi a morte do juiz Alexandre Martins de Castro Filho no dia 24 de março de 2003. Esse foi um clássico crime de mando. Era um jovem juiz que ao nosso lado combatia o enfrentamento dessa pistolagem", contou.

Os municípios da região Noroeste onde este tipo de crime era mais presente são: Baixo Guandu, Pancas e Colatina. O atual secretário de Segurança Pública contou que, ao contrário do que acontecia num passado recente a criminalidade nestas cidades hoje é puxada também, assim como na Grande Vitória, pelo tráfico de drogas. No interior, a polícia registrou até o dia 1º de agosto 374 homicídios. 



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