segunda-feira, 11 de abril de 2011

VIDAS CURTAS

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come

O tempo de vida dos homens reduziu em 5,7 anos, resultado de mortes trágicas na juventude

Por Vilmara Fernandes

Os homens no Espírito Santo estão envelhecendo menos em decorrência da violência. O tempo médio de vida deles foi reduzido em 5,7 anos. É o resultado de mortes trágicas - como os acidentes e os homicídios - registradas principalmente na juventude. Só em 2009, 28,8% das vítimas tinham entre 15 e 24 anos.

Um estudo feito pelo Instituto Jones dos Santos Neves mostra a vulnerabilidade desses homens jovens. Eles são as maiores vítimas da mortalidade por causas externas, decorrente de acidentes e violência. Só no ano passado, 91,4% dos que foram assassinados no Estado eram homens, boa parte deles na faixa de 15 a 24 anos.

São esses mesmos jovens que também estão envolvidos em crimes. O maior número de homicídios, tráfico de entorpecentes, furtos e roubos, por exemplo, tem a participação dos que acabaram de chegar aos 18 anos. E essa mesma faixa etária já representa o grupo mais expressivo de detentos no Estado. Dos mais de 12 mil que estão nos presídios capixabas, 30% tem idade entre 15 e 24 anos.

O outro lado
A situação fica ainda pior quando comparada com o sexo oposto. Em 2010, do total de presos 91% eram homens, contra 9% de mulheres. Eles são ainda responsáveis pela prática de 85% dos crimes ocorridos no Estado. Cerca de 31% deles envolvem o tráfico de drogas.

O impacto desse quadro já pode ser observado no perfil populacional. A cada 100 jovens, existem apenas 25,6 idosos homens - segundo dados de 2009 -, o que faz com que sejam menos da metade da população estadual de idosos (45,2%). Também possuem uma idade média (31,7) inferior a dos capixabas (32,5), e sua expectativa de vida - 70 anos - é menor do que a da população estadual (74 anos). São vidas encurtadas pela violência.

Serviço de inteligência social é meta de secretariaA intenção é entender o comportamento social; informações irão nortear as ações do Governo

O secretário de Segurança, Henrique Herkenhoff, acredita que o quadro apresentado pelo Instituto Jones dos Santos Neves é ainda pior se forem considerados os jovens que envelheceram no sistema penal. Isso mostra que a situação vem se agravando ao longo dos anos.

São por motivos como esses que ele defende a criação de um serviço de inteligência social. Para o secretário não adianta aumentar a repressão sem refletir sobre o que está acontecendo na sociedade. "É preciso investir em outras abordagens, apostar em iniciativas mais eficientes, principalmente em educação", destaca.

O propósito do novo serviço será garantir uma investigação do comportamento social, sem o foco acadêmico ou policial. As informações ajudariam a entender o que acontece na sociedade, principalmente com os jovens, e porque muitos deles não são atingidos pelos projetos sociais, além de nortear as ações governamentais.

A situação dos jovens também é alvo das atenções de Ângelo Roncalli, secretário de Justiça. Responsável pelos detentos capixabas, sabe que esse é um público que demanda atenção maior nos presídios, porque são mais inconsequentes e propensos ao enfrentamento.

Resultado dos momentos difíceis vivenciados na adolescência, como a falta de perspectivas e oportunidades, ausência de escola, além da presença em famílias que também enfrentavam dificuldades. "Mudar esse quadro vai levar algum tempo", destaca.

Outro motivo de preocupação é o retorno para as prisões. "Temos trabalhado para garantir a inclusão de quem sai do sistema carcerário no mercado de trabalho, o que ajuda a evitar seu retorno ao sistema e acabe aqui envelhecendo", destaca Roncalli.

Os reflexos da violênciaOs jovens morrem mais e vão mais para a cadeia

Índice de envelhecimento.
Total de idosos para cada 100 jovens (2009)
Homens - 25,6

Mulheres - 33,8

População idosa (2009)

Homens - 46,2%

Mulheres - 53,8%

Idade média

Capixabas - 32,5

Homens - 31,7

Mulheres - 33.3

Expectativa de vida

Capixabas - 75 anos

Homens - 70 anos

Mulheres - 78 anos

Mortalidade por causas externas

- Acidentes e homicídios (2009)


Até 4 anos - 1,8%

4 a 14 anos - 2,4%

15 a 24 anos - 28,8%

25 a 34 anos - 23,7%

35 a 44 anos - 14,5%

45 a 54 anos - 11,1%

Acima de 55 anos - 17,8%

Homens - 82,9%

Mulheres - 17,1%

Homicídios (2010)

Homens - 91,4%

Mulheres - 8,6%

Presos (2010)

18 a 24 anos - 33%

25 a 29 anos - 24%

30 a 34 anos - 13%

35 a 45 anos - 1%

45 a 60 anos - 5%

Acima 60 anos - 1%

Presos por sexo (2010)

Homens - 91%

Mulheres - 9%

População carcerária

Total - 12 mil

18 a 24 anos - 3.421

Principais crimes cometidos aos 18 anos

Homicídio

Furto

Roubo

Tráfico de droga

Porte / posse de armas

Escolaridade dos presos homens (2010)

Analfabeto - 5%

Alfabetizado - 7%

Fundamental Incompleto - 66%

Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves e Secretaria de Justiça

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