quarta-feira, 18 de maio de 2011

"É NÓIS" NO GOVERNO

Um livro que ensina a falar errado


 O governo Lula terminou há quase cinco meses, mas os imbróglios envolvendo o Ministério da Educação, muito frequentes nos últimos anos, continuam. Desta feita, o pivô da questão é um livro didático (?) contendo erros grosseiros de Português, que ironicamente tem este título: "Por uma vida melhor".

No Espírito Santo, 16 mil alunos da rede pública estadual utilizarão ao longo deste ano a referida obra. Em todo o país, ela chegará às mãos de 485 mil estudantes, jovens e adultos, de 4.236 escolas. O conteúdo valida expressões como "os livro", "nós pega o peixe" e "os menino pega o peixe" . A controvérsia se tornou inevitável.

Nem todos aceitam o argumento de que "a ideia de correto e incorreto no uso da língua deve ser substituída pela ideia de uso da língua adequado e inadequado, dependendo da situação comunicativa", conforme nota da autora do livro, Heloisa Ramos. O fato é que a obra tem sido duramente criticada por educadores e escritores. Eles a consideram um desserviço à educação e mais um passo na deterioração na qualidade do ensino, já bastante questionada.

O Ministério da Educação admite a existência de erros de Português no livro e, a partir daí, comete mais dois deslizes: recusa-se a recolhê-lo e a dar explicações por que o distribuiu. É arrogância em profusão. Tal postura foi reafirmada com o não comparecimento do ministro Fernando Haddad à reunião da Comissão de Educação do Senado que tratou do assunto no dia de ontem. É inaceitável a mentalidade do ocupante de cargo público que se considera desobrigado de prestar contas de atos administrativos.

Não é a primeira vez que o titular da Educação se coloca numa redoma, mantendo-se alheio a reclamações coletivas. E elas têm sido abundantes, direcionadas ao MEC. O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) tem se tornado uma fábrica de problemas. Dados (como CPF, número de carteira de identidade, etc.) de milhões de pessoas que se inscreveram para a prova do Enem nos anos de 2007, 2008 e 2009 vazaram na internet. Já em 2010, a divulgação do gabarito do Enem chegou a ser proibida por decisão da Justiça Federal, em função da troca de cabeçalhos dos cartões de resposta, o que causou transtorno a 3,5 milhões de alunos participantes. A tudo isso, o governo respondeu com empáfia.

Agora, em relação ao livro com erros de Português, o governo poderá ter de dar explicações em juízo, já que se recusa a fazê-lo à sociedade. O Ministério Público Federal estuda ingressar com ação na Justiça contra o MEC por distribuição de material que deseduca em vez de instruir. Tal procedimento também configura uso lastimável do dinheiro público.

Editorial de A Gazeta em 18/05/2011

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