terça-feira, 17 de maio de 2011

PROCURA-SE A VERGONHA NA CARA

Charge de Amarildo
Enriquecimento que causa surpresa


Segmentos da sociedade que exigem ética e moralidade dos integrantes de cargos públicos por certo gostariam de ter explicação sobre o veloz crescimento patrimonial do ministro da Casa Civil, Antônio Palloci. Mas o governo diz que não há o que apurar e que, para ele, o caso está encerrado. Cria-se, assim, um impasse de ordem ética, com reflexo no governo à medida que este parece omisso em relação ao caso.

Não necessariamente cometeu irregularidade o cidadão que logrou aumentar 20 vezes o seu patrimônio em apenas quatro anos - por mais surpreendente que isso seja. Mas se o autor de tal proeza é ocupante de cargo no governo, como Antônio Palocci, torna-se necessária uma explicação pública. O fato de o atual ministro ter atuado como consultor privado, e não apenas como deputado federal nos últimos anos, não anula a curiosidade que causa o fenomenal êxito nas finanças. Conforme veiculado em reportagem da Folha de S. Paulo, o patrimônio do ministro passou de R$ 375 mil para cerca de R$ 7,5 milhões entre 2006 e 2010.

A presença de Antônio Palocci no primeiro escalão do governo Dilma já é motivo de controvérsia. Ele escapou de processos no Supremo Tribunal Federal, mas foi afastado do governo Lula por força de um triste episódio, a violação do sigilo do caseiro Francenildo Costa.

Palocci é o quarto ministro do governo Dilma que veio a público em situação desconfortável nos últimos dias. Foi precedido pela titular da Cultura, Ana de Hollanda. Ela marcava compromissos às sextas e segundas-feiras fora de Brasília - principalmente no Rio de Janeiro, onde tem imóvel próprio - e recebia diárias não apens pelos dias de trabalho fora da capital federal, mas também pelos sábados e domingos de folga. Sem dúvida, um comportamento vergonhoso. No entanto a punição foi apenas o compromisso, assumido com a Controladoria-Geral da União de devolver a remuneração recebida indevidamente. Isso feito, o Palácio do Planalto tratou de divulgar a informação de que Ana de Holanda tem o apoio da presidente da República para continuar no governo.

A mesma tolerância presidencial foi estendida aos ministros das Comunicações, Paulo Bernardo, e do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence. Ambos receberam compensação financeira indevida: estiveram em Curitiba e Salvador - onde têm residência -, sem compromissos oficiais. Eles também adotaram o remédio administrativo de devolver os recursos à União - depois de denunciados.

Lamenta-se a acumulação de passivos na gestão federal. Esta também se equivoca ao achar que alguns casos se encerram com o tempo. Não é verdade, pois ficam na memória coletiva. Ou até geram ações. No episódio protagonizado por Palocci, os meios políticos já falam em representação na Procuradoria-Geral da República pedindo a abertura de inquérito para investigar o enriquecimento do ministro.

Editorial de A Gazeta em 17/05/2011

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