sábado, 26 de fevereiro de 2011

UM CHEFE ENROLADO

Bolso cheio e rindo à toa, mas com grampo no lombo e cadeia à vista.
PF rastreou telefonemas de ex-chefe de polícia do Rio

A Polícia Federal rastreou todas as ligações feitas pelo ex-chefe de Polícia Civil do Rio Allan Turnowski no dia 27 de novembro, véspera da ocupação do Complexo do Alemão, zona norte, então reduto dos maiores traficantes de drogas.

Essa técnica de investigação, chamada de conta reversa, consiste em analisar o histórico de chamadas feitas e recebidas por um investigado que, mesmo sem estar com o telefone grampeado, tenha ligado para um suspeito alvo, esse sim, de escuta telefônica.
Turnowski ligou para um inspetor investigado na Operação Guilhotina. Deflagrada no último dia 11, a operação apontou que 32 policiais civis e militares vendiam informações sobre ações da polícia a criminosos e desviavam armas do tráfico.
Entre esses policiais acusados, estava o inspetor da 22ª Delegacia da Penha, zona norte, para quem Turnowski ligou no dia 27 de novembro.
A PF diz que o então chefe de polícia, que só deixou o cargo neste mês após a Operação Guilhotina, vazou informação sobre a investigação policial ao inspetor. Turnowski nega.
Ele ligou para o policial após o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, avisá-lo de que a PF recebera queixa de que policiais civis cobravam propina para libertar preso no Complexo do Alemão.
Beltrame pediu providência a Turnowski, mas não determinou que o então chefe de polícia telefonasse a um policial especificamente.
A análise do histórico de ligação aponta que Turnowski ligou naquele dia para o inspetor, mas não fez contato com nenhum outro chefe de operação na retomada do Complexo do Alemão, diz a PF.
Para o delegado federal Allan Dias, o histórico de ligações mostra que o então chefe de polícia se preocupou apenas em alertar o inspetor investigado, pois nem sequer acionou outros policiais envolvidos na retomada do morro.
Como o telefone do policial estava grampeado, a PF ouviu a conversa de Turnowski com o inspetor e, como base nisso, o indiciou sob suspeita de vazar informações sigilosas a um investigado.
A Folha de São Paulo publicou com exclusividade o diálogo ontem.
"Olha só, o secretário [de Segurança] me ligou, que caiu na escuta da Federal a prisão desse cara [acusado de ser segurança do traficante FB, Fabiano Atanázio da Silva, chefe do Complexo do Alemão] pela 22ª [Delegacia]", disse Turnowski.
O inspetor responde que o preso "já está trancado lá na 22ª".
"Fica esperto aí que nego da federal está dizendo já, que caiu na escuta, que nego ia vender uma cabeça aí [libertar o preso], não sei o quê. Pô, ainda bem que já tinha sido avisado e já falei para o secretário. Se não, nego já estava queimando vocês. Então fica esperto. Vê se tem mais alguém agarrado. Confere suas equipes aí", acrescentou o ex-chefe da Polícia Civil.
"Não pode deixar brecha, tá. Não deixa brecha, não, porque vocês são alvo legal", disse ainda Turnowski. A Folha não o localizou hoje.
Esta maleta continua fazendo "vítimas".

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